Sudão do Sul - O país open source

Recém-fundado após anos de guerras, Sudão do Sul pode ter um recomeço tecnológico e ser o primeiro país ‘aberto’ do mundo

Onde quer que esteja, Stephen Kovats mantém o hábito de usar camisas estampadas. Mas não se deixe enganar pelo tipo um tanto excêntrico. Ex-diretor do festival Transmediale, tradicional encontro alemão de arte e tecnologia, Kovats apresentou na conferência Open Strategies, em Berlim, o que talvez seja seu mais ambicioso projeto: o #OSJUBA (Open Source Juba), que ele quer realizar no Sudão do Sul, país africano imerso em guerras há pelo menos 50 anos .

“Tudo começou com uma visão: o mais novo país do mundo (o Sudão do Sul se tornou um Estado independente em 2011) nasce em um momento em que existem tecnologias e metodologias para o acesso e o compartilhamento de informação e conhecimento que não existiam quando a maioria das outras nações do mundo foram fundadas”, disse Kovats.

No projeto, Kovats quer utilizar tecnologias de código aberto e o conceito de transparência e cultura livre para construir a primeira nação de código aberto do mundo. A capital, Juba, seria o modelo. “Queremos compartilhar a informação. A comunidade open source está mais madura, mais atenta ao seu papel, já é um fenômeno global, e agora é a hora de olhar para essas metodologias e aplicá-las”, disse Kovats.

O projeto, que ainda está em fase embrionária, teve seu lançamento em um evento realizado em Berlim com a presença de hackers, ativistas, especialistas em software livre e a embaixadora do Sudão do Sul na Alemanha, Sitona Abdalla Osman, uma das entusiastas do projeto.

Como resultado das articulações iniciadas no meio do ano, Juba sediará a partir de hoje o evento Medias&Makers, parceria da agência de Kovats, r0g media, com a ONG alemã Media In Cooperation and Transition (MICT). O evento vai reunir representantes da Fundação para o Software Livre e Open Source para a África, além de autoridades regionais como David Chan Thiang, secretário de estatísticas do Sudão do Sul e Barnaba Marial Benjamin, porta-voz do governo e ministro da Informação. A conferência tem o apoio da Unicef e do governo alemão.

Um dos resultados que Kovats imagina na prática é uma diretoria de sistemas abertos que conversaria com todas as outras secretarias do governo do Sudão do Sul. “Se você tem uma boa equipe de tecnologia da informação, com autonomia e livre acesso às várias instâncias do governo, muita coisa pode mudar. O governo é a nossa ferramenta e precisamos retomar esse protagonismo”, defende Kovats.

Do zero. Nascido no Canadá, o idealizador do projeto chegou a Alemanha, onde mora há 20 anos, três dias depois da queda do muro de Berlim. “Fiquei impressionado com a possibilidade de reconstrução.” Àquela altura, como agora no Sudão do Sul, todos sabiam que as coisas iriam mudar, mas não sabiam o que e nem como. “Quais os fundamentos que precisamos usar quando tudo está de ponta-cabeça?”, questiona ele, que se define como um arquiteto que constrói sistemas e criações utópicas.

Com experiência de anos no uso das tecnologias para transformação social, Kovats aceita todos os convites que recebe para falar do seu projeto, com fins de angariar parceiros e apoiadores. “Realmente o Sudão do Sul apresenta uma oportunidade incrível para o conceito de abertura, no sentido de uso de transparência e sistemas abertos para a construção de um país. Meu desejo agora é buscar parceiros em outros países da África”, planeja.

ESTRATÉGIAS ABERTAS

O temo “open source” deixou de ser sinônimo de software livre para influenciar a moda, o design, a psicologia, os modelos de negócio e a vida de muitas pessoas. É isso que se viu na primeira edição da conferência Open Strategies (estratégias abertas), realizada em novembro em Berlim.

Entre os projetos apresentados por lá, havia propostas para levar o conceito das tecnologias abertas para usos menos convencionais, como hackear uma máquina de tricô, compartilhar fracassos pessoais ou modificar os contratos milionários de petróleo. “Quando descobri a comunidade open source, me impressionei com o fato dos desenvolvedores serem tão precisos sobre o limite de seus projetos”, disse o curador do evento, Andreas Gebhart. Sua ideia era juntar experiências que, de alguma forma, refletem a cultura livre além do ambiente puramente tecnológico.

O empresário Matteo Cassese, por exemplo, apresentou uma rede social chamada Out As You, que almeja, em dez anos, ajudar 10% da população a assumir sua sexualidade. Já a programadora Regine Heidorn falou de sua teoria, baseada na neurociência, de que precisamos ser mais abertos com os fracassos em nossas vidas. “Estamos muito acostumados a comemorar sucessos, mas são os fracassos que nos levam a soluções realmente inovadoras”, disse.

Outros participantes falaram da cultura livre no mundo físico. Há dois anos a programadora Fabienne Serriere ressuscitou uma máquina de tricô de 1982, que, nas palavras dela, “só se tornou usável por causa do conhecimento livre que temos hoje”. Entre as brincadeiras com a máquina, Fabienne produziu capas térmicas para a Club Mate, uma bebida típica berlinense, para que as pessoas possam tomá-la mesmo no frio.



Um Passeio Pelo Mundo Livre

Petróleo
A ideia: Fundada pelo empreendedor e jornalista britânico Johnny West, a Open Oil se define como uma empresa de transparência. O principal objetivo é ajudar a população dos países produtores de gás e petróleo a se apropriarem dos dados e contratos relacionados à produção destes recursos naturais. A empresa já lançou mais de cinco almanaques “Open Oil”, cada um dedicado a um país produtor diferente como Colômbia, Gana e Iraque. Há também guias colaborativos e material didático sobre o mundo do petróleo
Site: openoil.net

LGBT
A ideia:  A Out As You é uma rede social destinada ao público LGBT criada para ajudar a população a assumir sua sexualidade perante a família, amigos e colegas de trabalho. Para isso, há ferramentas como textos de autoajuda, informações úteis sobre leis anti-homofobia e depoimentos. Está em desenvolvimento
Site: out.as/you

Ensino
A ideia: A Open Tech School é uma associação de ensino de linguagens de programação dirigida principalmente às mulheres, embora homens também sejam bem-vindos. Ela é formada por voluntários e tem escolas em Berlim e Copenhague (Dinamarca)
Site: opentechschool.org

Trocas
A ideia: Ainda em fase beta, o Qipoqo é uma plataforma de consumo colaborativo que quer incentivar a troca de serviços. A ideia é que os usuários possam se ajudar com seus conhecimentos sem que se gaste nenhum centavo
Site: ysignup.qipoqo.com

Clima
A ideia: Projeto de três jovens empreendedores de Berlim, o Open State pretende trazer à tona discussões sobre mudanças climáticas e o futuro do planeta.
Os empreendedores planejam realizar uma conferência em 2013, em que dez projetos serão selecionados e desenvolvidos colaborativamente. Os próximos passos incluem a criação de uma plataforma na internet e um livro. O material será lançado sob uma licença aberta, para que possa ser copiado e distribuído. Em 2015 a ideia é que o evento possa ser ampliado para outros países

Via: openstate.cc

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